quarta-feira, 19 de maio de 2021

Dia do autor português/Homenagem


 O Existencialismo intemporal em O Doido e a Morte,


de Raul Brandão


Em O Doido e a Morte, Raul Brandão reflete acerca do comportamento e do valor da

vida humana por meio de uma farsa que, não obstante lançar a cítica aos detentores de maior

riqueza, iniciou, em 1923, uma discussão sobre a própria existência num público recente e

frequentemente confrontado com a mortalidade e tragicidade da Primeira Guerra Mundial.

Na peça que se debruça sobre a condição humana e a sociedade da época, o Governador

Civil, a sua esposa Aninhas, o criado Nunes e os figurantes surgem como a tipificação dos

cidadãos adormecidos e de consciência alienada, que se apegam a uma vida vazia e desprovida

de amor, honestidade ou propósito e que se recusam a abandonar as regras e estatuto social

perante a morte. A sua mera existência denuncia a passividade dos mais influentes face à

situação histórica da altura e o seu egocentrismo, ciando fissuras nos relacionamentos

interpessoais. Por oposição, o Sr. Milhões, o “Doido”, faz uma apologia da loucura, por ser algo

que livra o ser humano de «viver constrangido e estar sujeito a mil complicações».

É na personagem do “Doido” que reside a carga existencial da peça, por ser um

indivíduo que sofre e, por consequência, se confronta com o problema da morte e o sentido da

sua existência. Indignado com a passividade dos restantes perante a proximidade de um fim

iminente, a personagem cria uma situação em que os indivíduos são confrontados diretamente

com a morte, causando-lhes angústia e terror, o que atribui à obra uma vertente expressionista.

Por intermédio deste texto, é possível fazer-se, ainda, uma reflexão sobre as relações humanas,

dominadas pela falta de compaixão e respeito pela vida do outro, pela sede do poder e pelo

caráter narcisista e niilista da humanidade.

Efetivamente, a obra de Raul Brandão carrega um valor moralizador e crítico de grande

importância, que ajuda não só a entender as razões inerentes ao despoletar da Primeira Guerra

Mundial - uma época em que os detentores de riqueza instigavam conflitos para seu benefício -,

mas também clarifica a atualidade, onde o desejo de grandeza e de poder continua a ser o

epicentro da maioria dos confrontos e divergências. Para além da atualidade da crítica, O Doido

e a Morte deve ainda a sua intemporalidade à linguagem e ao tipo de humor utilizados pelo

autor.


Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Literatura Portuguesa

Aluna: Joana Coelho

Turma: 11º F

Docente: Amélia Rocha

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