O Existencialismo intemporal em O Doido e a Morte,
de Raul Brandão
Em O Doido e a Morte, Raul Brandão reflete acerca do comportamento e do valor da
vida humana por meio de uma farsa que, não obstante lançar a cítica aos detentores de maior
riqueza, iniciou, em 1923, uma discussão sobre a própria existência num público recente e
frequentemente confrontado com a mortalidade e tragicidade da Primeira Guerra Mundial.
Na peça que se debruça sobre a condição humana e a sociedade da época, o Governador
Civil, a sua esposa Aninhas, o criado Nunes e os figurantes surgem como a tipificação dos
cidadãos adormecidos e de consciência alienada, que se apegam a uma vida vazia e desprovida
de amor, honestidade ou propósito e que se recusam a abandonar as regras e estatuto social
perante a morte. A sua mera existência denuncia a passividade dos mais influentes face à
situação histórica da altura e o seu egocentrismo, ciando fissuras nos relacionamentos
interpessoais. Por oposição, o Sr. Milhões, o “Doido”, faz uma apologia da loucura, por ser algo
que livra o ser humano de «viver constrangido e estar sujeito a mil complicações».
É na personagem do “Doido” que reside a carga existencial da peça, por ser um
indivíduo que sofre e, por consequência, se confronta com o problema da morte e o sentido da
sua existência. Indignado com a passividade dos restantes perante a proximidade de um fim
iminente, a personagem cria uma situação em que os indivíduos são confrontados diretamente
com a morte, causando-lhes angústia e terror, o que atribui à obra uma vertente expressionista.
Por intermédio deste texto, é possível fazer-se, ainda, uma reflexão sobre as relações humanas,
dominadas pela falta de compaixão e respeito pela vida do outro, pela sede do poder e pelo
caráter narcisista e niilista da humanidade.
Efetivamente, a obra de Raul Brandão carrega um valor moralizador e crítico de grande
importância, que ajuda não só a entender as razões inerentes ao despoletar da Primeira Guerra
Mundial - uma época em que os detentores de riqueza instigavam conflitos para seu benefício -,
mas também clarifica a atualidade, onde o desejo de grandeza e de poder continua a ser o
epicentro da maioria dos confrontos e divergências. Para além da atualidade da crítica, O Doido
e a Morte deve ainda a sua intemporalidade à linguagem e ao tipo de humor utilizados pelo
autor.
Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Literatura Portuguesa
Aluna: Joana Coelho
Turma: 11º F
Docente: Amélia Rocha
Sem comentários:
Enviar um comentário