in: https://www.sas.com/pt_br/insights/articles/analytics/empregabilidade-na-era-da-inteligencia-artificial.html
A A questão da empregabilidade diante da
inteligência artificial
Cassio Pantaleoni, Country Manager, SAS Brasil
Se pensarmos na
acelerada transformação imposta ao sistema socioeconômico em razão da crescente
adoção da inteligência artificial (IA), mesmo assumindo a dramática otimização
de processos lentos, frágeis e fragmentados, são pertinentes as preocupações
que gravitam em torno da empregabilidade.
Estudo da McKinsey
divulgado em 2017 adverte que a IA ameaça 50% dos empregos no Estados Unidos e
Europa; e nos mercados emergentes poderão colocar em risco 70% das posições de
trabalho. Cumpre, entretanto, avaliar com mais critério quais serão os reais
impactos dessa tecnologia. Se de um lado temos os profetas do desemprego pela
substituição da atual mão de obra por agentes de software com
inteligência artificial, de outro descobre-se o grupo otimista daqueles que
creem nos benefícios da agregação de valor em tarefas onde o fator humano é
essencial.
A questão da
automatização
É preciso inicialmente
admitir que grande parte das tarefas monótonas, que dependem de pessoas, seriam
automatizadas facilmente. Considere-se, por exemplo, a operação de centrais de
atendimento, classificação de documentos, moderação de conteúdo, operação e
suporte de processos produtivos, agentes de logística, abertura de contas
bancárias, subscrição de seguros, análises de evasão fiscal etc. Tais
processos, ou tarefas, compartilham de um padrão previsível de atividades repetitivas
possível de ser replicado por algoritmos de aprendizado de máquina. Mesmo
certas atividades de grande complexidade, como aquelas que demandam o
processamento de grandes conjuntos de dados em tempo real (por exemplo,
veículos autônomos) bem aproveitariam os recursos da IA, seja observando,
decidindo ou agindo em tempo real por meio de funções de otimização bem
definidas.
A intenção primeira do
uso de IA é libertar pessoas de tarefas mundanas e que não desafiam a
criatividade, proporcionando maior espaço para o desenvolvimento intelectual e
o desenvolvimento dos negócios. O desafio, contudo, recai neste grande grupo de
trabalhadores de baixa renda que estão ocupados com estas tarefas repetitivas.
Como redistribuir este grupo para possíveis novas ocupações profissionais que
serão necessárias ao mundo diante da expressiva adoção de IA? O próprio
fundamento da empregabilidade, que neste caso se ajusta a acordos de vínculos
de longo prazo e de jornadas de trabalho fixas, necessitaria de um novo
paradigma. Seria um mundo de flexibilidade de vínculos, de ofertas de serviço
diferenciadas, que vingaria apenas em uma cultura de empreendedorismo,
criatividade e inovação. Tais requisitos não necessariamente são encontrados
nos atuais trabalhadores de baixa renda que executam tarefas repetitivas. Como
certa feita escreveu a poetisa goiana Cora Coralina: “Na prática, a teoria é
outra”.
Em verdade, até
recentemente, a discussão sobre a estratégia de desenvolvimento do capital
humano apontava o papel crítico para o sucesso econômico mundial, desde a
perspectiva das habilidades necessárias que supririam as novas demandas do
mercado. Entretanto, a IA coloca uma inflexão nesse debate, pois ainda não está
claro quais serão efetivamente as habilidades que poderão ser amplamente
requeridas no futuro. Amplamente aqui significa a dimensão desse grande grupo
de trabalhadores de baixa renda, que inevitavelmente será preterido em função
da IA. Uma estratégia holística para o desenvolvimento do capital humano requer
a compreensão clara dos talentos, habilidades e capacidades das pessoas para a
nova circunstância instaurada diante desta nova tecnologia.
IA não é o futuro: é o
presente! Você está pronto para ela?
O outro lado
Porém, há grupos
otimistas que anteveem um cenário positivo. Com suas oportunidades e riscos, a
automação inteligente exigirá sociedades mais adaptativas e flexíveis, com
indivíduos dispostos ao aprendizado contínuo, à colaboração e à inovação. A
necessidade de repensar os mecanismos sociais também deverá estar em pauta. De
certo modo, o futuro dos empregos pode ser mais promissor do que se supõe. De
acordo com uma pesquisa da consultoria Gartner, a IA está criando mais empregos
do que acabando com eles, com previsão de alcançar até 2 milhões de novas
posições de trabalho até 2025. E aí estão incluídos não somente empregos para
engenheiros de software, mas também para trabalhos sem
especialização, como por exemplo o treinamento dos agentes de IA para
reconhecer objetos ou atividades humanas.
Evidentemente, a
perspectiva otimista e a perspectiva alarmista duelam em território pantanoso,
pois assumem a premissa do apelo inquestionável da IA. Se algo não pode ser
evitado, o que terá que ser será, e teremos de conviver com isso.
Entretanto, a
inevitabilidade da evolução tecnológica para a economia não deveria ser
considerada isoladamente. Diante do inelutável é preciso planejamento. Para
aqueles que integram a força de trabalho potencial do mundo – indivíduos que
necessitam de renda proveniente de seus empregos para colaborar com o
equilíbrio da economia (evitando assim os custos de embates sociais) –, faz-se
necessário um planejamento de longo prazo para a estratégia do desenvolvimento
do capital humano. Os riscos aqui recaem sobre a importância secundária do tema
para os círculos políticos ou mesmo para empreendedores ou investidores.
Empresas e governos tratam do tema de maneira reativa e com isso devolvem à
sociedade a responsabilidade para que ela encontre seu próprio caminho. É
exatamente este descaso que contribui, nos dias atuais, para a dificuldade de
encontrar os talentos que as organizações necessitam diante da transformação
digital.
A questão da
empregabilidade diante de mudanças do mercado advindas de novos paradigmas
tecnológicos não é exatamente um tema novo. Toda a vez que o paradigma
estabelecido enfrenta a dissonância produzida pelas vozes de qualquer inovação
o tema revitaliza-se. Foi assim com a revolução agrícola do século 18, as três
revoluções industriais de 1760, a de 1850 e a da segunda metade do século 20, e
por fim a revolução digital. A diferença é que agora estamos diante de algo
muito mais impactante, porque a IA simula a cognição humana, algo que nunca
tínhamos alcançado. É exatamente por isso que o futuro da empregabilidade não
está claro, pois nunca o desenvolvimento do capital humano esteve tão
dependente de uma estratégia lúcida e de longo prazo. Tal estratégia deverá
estar fundamentada pela ideia de aprendizagem contínua e exigirá políticas
sociais e econômicas que a suportem. Deverá ser pautada pelo reconhecimento de
que, em uma economia global que se transforma em grande velocidade, o
conhecimento valioso de um trabalhador jovem poderá ser inútil nas décadas
seguintes.
No setor de varejo, essa tecnologia é
ideal para os processos de negócios, pois, uma vez que o estudo dos gestos ou
padrões de fala avancem, será possível não só entender as reações que levam à
compra de um produto, mas também prever tendências de consumo.Luiz Riscado Diretor
Comercial SAS
* Este artigo
foi originalmente publicado na edição de 21 de Setembro de 2018 da Harvard
Business Review.