terça-feira, 17 de maio de 2016



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De 2014 mas muito atual

Sobre o fanatismo do futebol
19 Dezembro 2014 - 20:14
No passado Domingo o Benfica foi ao Estádio do Dragão vencer o F.C Porto. Não foi preciso muito tempo para que este resultado desportivo inundasse as redes sociais com discussão e polémica: desde o benfiquista provocador que não hesitou em gabar-se do resultado da sua equipa, ao portista indignado que respondeu com argumentos a relembrar resultados passados, até ao sportinguista insatisfeito com a satisfação alheia.
Ontem, o processo inverteu-se e, desta feita, foi o Benfica a perder no seu próprio estádio, diante do Sporting de Braga, com o impacto nas redes sociais a ser semelhante.
Antes de mais, é preciso termos em conta que o futebol é um desporto e, como tal, deveria conter em si um fim saudável, seja para quem o pratica, seja para quem o acompanha. Contudo, também é importante referir que não podemos deixar de considerar que é um desporto que movimenta imensa gente, que desperta paixões e mexe com os sentimentos dos seus seguidores. À maioria dos seus adeptos está intrínseca uma paixão pelos seus clubes que, em grande parte das vezes, resulta num certo fanatismo que retira toda a lucidez em volta da sua discussão, levando os mesmos a caírem em atitudes e acções completamente irracionais. Perante isto, e tendo em conta aquilo que é o futebol moderno, subjugado a factores como interesses particulares e financeiros, onde o gosto pelo desporto em si é muitas vezes relegado para segundo plano em detrimento desses mesmos factores, é importante questionarmo-nos: será que as atitudes que tomamos em nome do futebol são justificadas? A resposta parece-me algo óbvia.
Hoje em dia, é rara a jornada futebolística em que os resultados não criam polémica nas redes sociais (e não só), gerando discussões que resultam muitas vezes em acusações e insultos sem qualquer fundamento lógico. Mas, mais do que isto, o futebol tem a capacidade de conseguir alienar completamente quem o vive fervorosamente. Não consigo deixar de notar, com grande tristeza, o impacto que uma vitória/derrota de um Benfica, Sporting ou Porto têm na opinião pública, comparativamente a assuntos políticos que condicionam a vida de cada um de nós.
No século XIX, Karl Marx considerava que “a religião é o ópio do povo”. Apesar de podermos considerar que, em parte, ainda o continua a ser, não posso deixar de reparar num sentimento idêntico relativamente ao futebol. O resultado revela-se num fanatismo que nos distrai de assuntos de maior importância, e nos leva a comportamentos completamente desprovidos de racionalidade, como que de uma espécie de cegueira se tratasse. Citando José Saramago, “Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem”.
{loadposition inline}Não quero com isto censurar quem é adepto de futebol. Eu próprio me considero como tal, e vibro com o futebol. Mas parece-me importante fazer uma clara distinção entre gosto e fanatismo, sobretudo numa altura em que este desporto se encontra cada vez mais afastado daquilo que deveria representar enquanto tal. Acima de tudo, parece-me de extrema importância mudar a forma como vemos o futebol, sendo necessário condenar atitudes que, em nome do mesmo, continuam a condicionar a discussão pública, reflectindo-se em comportamentos que em nada contribuem para a cidadania, e que pelo contrário apenas prejudicam a nossa condição enquanto cidadãos racionais.

in: http://ptjornal.com/sobre-o-fanatismo-do-futebol-28177

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