terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

in: https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2020-02-02-johannes-ziegler-quando-se-ativa-um-tablet-desativam-se-os-outros-sentidos/

Teresa Campos
TERESA CAMPOSJORNALISTA

Johannes Ziegler: “Quando se ativa um tablet, desativam-se os outros sentidos”

Foto: Luis Barra
Em entrevista à VISÃO, Johannes Ziegler, diretor do Laboratório de Psicologia Cognitiva da Universidade de Aix-Marseilha, em França, defende que não se pode generalizar os ecrãs na aprendizagem sem a adequada supervisão. "É uma boa ferramenta, mas tem de ser usada com parcimónia"
Foi há um ano que se anunciou uma revolução, mais ou menos silenciosa, nas escolas francesas. Chamou-se-lhe o regresso do bê-á-bá, uma espécie de back to basics, embora, visto mais de perto, se revele um sistema suportado pelas mais recentes inovações científicas. Ultrapassado o tempo do projeto-piloto e alargado o processo a todo o país, Johannes Ziegler, um dos mentores desta nova abordagem da escola francesa, apresentou-nos o modelo que conta como uma mais–valia muito especial: o contributo das neurociências para a escola.
A convite da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Johannes Ziegler, 52 anos, investigador que cresceu na Alemanha, estudou nos EUA e agora vive em Marselha, no Sul de França – onde é diretor do Laboratório de Psicologia Cognitiva da Universidade de Aix-Marseilha –, veio explicar, antes de mais, porque falha a aprendizagem da leitura. Para aquele orador da conferência Como Aprende o Cérebro? O Papel das Ciências Cognitivas na Educação, realizada em Lisboa, no final de 2019, não se pode esperar mais para se mudar a forma como se ensina esse conhecimento primordial. “Um em cada cinco alunos não aprende a ler no tempo devido, quando a leitura é a coluna vertebral da aprendizagem. Não podemos conformar-nos com isto.”
Depois de experiências em escolas frequentadas pelos mais desfavorecidos, foi fácil confirmar que aqueles que estão menos expostos a estímulos de aprendizagem (sejam livros, concertos, espetáculos…) acabam por ter mais dificuldade em pronunciar corretamente os fonemas da língua – e depois mais ainda a interpretar esses sons e a associá-los a palavras. O problema ganha uma dimensão maior quando nos deparamos com os números: no fim da escolaridade básica, temos 40% dos alunos com dificuldades de compreensão de um texto escrito. “É tremendo, é muita gente! Por isso digo que esperar demais pode comprometer o resto do percurso.” Muitas vezes, alerta ainda, opta-se por medicalizar a questão – mesmo que não haja um diagnóstico de dislexia. Os professores franceses que estão a testar o modelo resistiram ao início, depois confirmaram que ele torna o seu trabalho mais eficiente.
O que o levou a interessar-se por esta questão da leitura e da aprendizagem?
A minha área de investigação é o funcionamento do cérebro e, a dada altura, tornou-se claro que a aprendizagem da leitura era crucial para tudo o que se seguia. Se pensarmos que vivemos em países com poucos recursos (é o caso de França, é o caso de Portugal…) e que a escola continua a ser o que de mais valioso se pode oferecer para se melhorar a vida das pessoas, então este tipo de conhecimento será muito útil. Depois de compreender porque uns aprendem a ler com mais facilidade e outros não, o desafio foi desenvolver um modelo computacional que nos permitisse ultrapassar essas dificuldades.
A proposta inclui o ensino do fonema, que é uma abordagem mais tradicional, a que depois se junta a contribuição das novas tecnologias. Como se conjuga o melhor destes dois mundos?
Digamos que recorro à tecnologia em situações que os professores nunca serão tão bons. Quando se está a aprender a ler, é preciso uma repetição intensiva dos sons, a sua correspondência com as sílabas e depois com as palavras. Sabemos que as crianças não começam todas do mesmo ponto de partida. Têm diferentes origens e hábitos, e isso naturalmente que se reflete. Umas aprendem muito devagar e precisam de muita exposição às letras e ao som que estas fazem quando combinadas. Depois, existem as outras, as que vêm de famílias mais abastadas, em que há livros em casa, ou as que têm irmãos mais velhos, em muitos casos que já sabem ler – e, na escola, acabam por aborrecer-se quando têm de esperar pelos que estão em fases mais atrasadas. Daí que as ferramentas digitais, que são muito moldáveis e adaptativas, possam ser úteis nestes casos. Num programa computacional, há milhares de estímulos visuais e auditivos que lhes podemos providenciar – e sabemos que são precisos os dois: ler é compreender o discurso passado por escrito; ler é ligar o que vemos à linguagem falada. Com a ajuda destes programas, delegamos ao computador a repetição, uma função que ele executa melhor, e aliviamos o professor dessa tarefa, permitindo que se dedique a outras em que ele faz efetivamente a diferença. Quando tem 24 crianças numa sala de aula, o docente ter de repetir os fonemas com cada uma delas e isto em apenas 50 minutos, o que se torna uma tarefa quase impossível. Além disso, o computador consegue dar um feedback mais rápido.
É um método útil a todos os miúdos em idade de aprender a ler ou só em alguns casos?
Trabalhei nos bairros mais desfavorecidos da zona de Marselha, e o que me foi possível observar foi que havia dificuldades por imensas razões: uns porque eram paupérrimos, outros porque nunca faziam qualquer atividade fora da escola. Aquele foi o meu laboratório de experimentação. Claro que não é preciso usar este modelo em todos os casos, mas hoje estou convencido de que os professores gostam efetivamente deste método porque os liberta para as tarefas em que podem fazer a diferença. É o que faz sentido, os recursos são demasiados valiosos para serem desperdiçados.
E como se aplica esta metodologia na sala de aula?
Começámos por dividir a turma em dois: isso permite que uma parte trabalhe com o tablet – de uma forma mais autónoma mas também silenciosa – enquanto o professor dá mais atenção à restante turma, que já se pode centrar em questões mais avançadas de compreensão, aquelas que precisam de interação social.
Isso também permite que cada um avance ao seu ritmo…
Sim, isso é muito importante. Em muitos momentos, não somos bons a lidar com as diferenças e com as características de cada um. Preocupamo-nos demasiado com a média. Só que esta não existe, é uma abstração. Temos de adotar modelos de aprendizagem que também promovam o trabalho de grupo e a interação na sala de aula, de forma a não deixar ninguém de fora. Isto é comum nos modelos finlandeses, mas em França ainda alimentamos muito o antigo sistema, em que um professor tenta ensinar todos os alunos da turma ao mesmo tempo. Isso acaba por ser mau para os bons alunos, que não podem ir muito depressa na sua aprendizagem e que se aborrecem, e mau para os que têm mais dificuldades, porque não conseguem acompanhar de forma alguma.
E a sua recomendação é que se abandone de vez o modelo expositivo?
Bom, é a minha e a de todos os que trabalham nesta área. Hoje, a pedagogia diferenciada e individualizada é consensual, embora seja difícil de aplicar, porque, muitas vezes, os professores não têm as ferramentas adequadas para o fazer. No meu país, pelo menos, eles não têm preparação para isso e é preciso que a tenham, que recebam as descobertas da Ciência, para lidarem de outra forma com as várias dinâmicas que se criam numa sala de aula.
Na sua opinião, o que explica esta resistência em mudar a sala de aula?
Penso que tem muito que ver com a formação dos professores. Temos sempre o exemplo da Finlândia, mas lá o professor é alguém com uma grande reputação, bem pago e com uma profissão muito estável. Tem muitas horas de formação anual e sente-se bem tratado. Em outros sistemas de ensino, isso não acontece, e essa é uma das razões para haver resistência: os professores entram na sala de aula e, em muitos casos, ficam completamente sozinhos, sem apoio algum. Depois, há aquela velha tradição de mandar os docentes mais inexperientes para as zonas mais difíceis, enquanto os mais qualificados ficam com as melhores turmas. E não há maior desigualdade do que esta!
Não somos bons a lidar com as diferenças e com as características de cada um. Temos de adotar modelos de aprendizagem que também promovam o trabalho de grupo e a interação na sala de aula, de forma a não deixar ninguém de fora
Já sabemos que o cérebro é um órgão social e que funciona por estímulos. O que acontece no cérebro quando se aplica o sistema de aprendizagem que propõe?
O que o cérebro faz, em todas as línguas, mesmo em chinês, é associar símbolos visuais à palavra dita. A forma mais direta de o fazer – e, por isso, mais “económica”, ou seja, com menos esforço – é usar as letras e recorrer aos fonemas. A correspondência faz-se mais facilmente a este nível. Muitas vezes há exceções, e os portugueses sabem bem disso, daí que seja preciso o contexto e o recurso a unidades maiores para que a interpretação seja mais correta. Porém, na maioria dos casos, bastam as letras e os fonemas para se fazer a associação mental necessária à leitura, para que se possam associar os milhares de palavras, que já ouvimos antes de aprender a ler, à sua representação escrita. É uma fase da aprendizagem que não exige muito mais do que 20 ou 30 associações. E, depois, a criança pode avançar autonomamente, sem o professor, desfrutando do prazer da leitura.
Defende que o método global de aprendizagem – aquele que parte do contexto para a palavra e depois para as unidades mais pequenas – teve efeitos catastróficos em França. Quer explicar melhor?
Com as crianças mais desfavorecidas, que não têm famílias com hábitos de leitura e que, muitas vezes, nem têm livros em casa, esse método foi muito mau, porque partia do pressuposto de que elas já tinham contacto com as palavras. Só que, sem esse investimento anterior, o método não funciona. O que aconteceu foi que várias crianças não aprenderam a pronunciar as palavras e, depois, como não conheciam muitas, tornou–se quase impossível reconhecer as palavras pelo contexto. Além disso, sem um método que sistematizasse aquela aprendizagem, quem tinha dificuldades conseguia facilmente passar despercebido, atrasando ainda mais qualquer intervenção.
Funciona então em famílias com vivências mais ricas, é isso?
Sim, creio que nesses casos funciona. Mas com esses nós não nos temos de preocupar, pois muitas vezes as crianças já sabem ler quando chegam à escola. A nossa grande preocupação é com aquelas que vivem com todas as dificuldades e que depois ainda têm mais essa. Quando se espera muito tempo, o custo da inação será bem maior. Estes são os alunos que, mais tarde, vão estar desempregados, que muitas vezes desenvolverão problemas psiquiátricos, desde a depressão à esquizofrenia. Está tudo ligado e é demasiado caro para a sociedade. É preciso olhar para estas crianças e apoiá-las desde o início.
É como se investíssemos em estímulos para aprender melhor. À semelhança do doente que, bem–disposto, se cura mais depressa, a Ciência também valida que o aluno que gosta de aprender aprende com mais facilidade?
Sem dúvida. Há muito conhecimento da Psicologia Positiva que aponta nesse sentido. Daí que a motivação e os sentimentos que temos pelas coisas nos ajudem a criar vínculo. Sabemos ainda que isso também pode ser treinado e que não se trata só da parte mecânica: podemos, por exemplo, estabelecer um objetivo que permite, a cada um, identificar o nível em que o aluno começou e a que pretende chegar. E pode estimular esse gosto pela aprendizagem ainda de outra forma, mais inteligente, dando textos mais complexos a quem está mais avançado e uma versão mais simples a quem está mais atrás, permitindo sempre que todos possam debater a mesma ideia.
Não receia que haja resistência a este método por propor o uso de ecrãs? Há muitos medos sobre isso.
Este método propõe o recurso aos tablets em situações e em casos muito específicos. Não acredito nada que se possa generalizar os ecrãs na aprendizagem sem a adequada supervisão. É uma boa ferramenta, mas tem de ser usada com parcimónia: sabemos hoje que, quando se ativa um tablet, desativam-se os outros sentidos. Todos os cuidados são poucos: não é só agarrar no tablet e começar a fazer coisas.
in:



As fotografias inéditas da escravidão que Sebastião Salgado encontrou nas minas de ouro do Brasil








2 / 7
© Sebastião SALGADO
É uma espécie de regresso às origens: numa edição especial, o fotógrafo brasileiro revela novas perspectivas da corrida ao ouro na selva amazónica, revisitando o trabalho que lançou a sua carreira internacional
Cor. Brilho. Modernidade. Esta era a santa trindade da Imprensa da década de 1980, com as grandes revistas internacionais a apostarem milhões na reconversão para as páginas a cores.
Por isso, quando Sebastião Salgado explicou a Neil Burgess (que acabava de ser nomeado diretor da Magnum, em Londres, em 1986) que pretendia dedicar os anos seguintes a fotografar apenas a preto-e-branco as vidas de trabalhadores pobres e explorados em 42 locais do mundo, ele deitou as mãos à cabeça. Comercialmente, o projeto do fotógrafo brasileiro tinha tudo para ser um desastre.
Alguns meses mais tarde, Salgado telefonou-lhe contando que acabara de regressar do Brasil, onde decidira iniciar o projeto que daria origem ao livro Trabalho. Agora, dizia, precisava que a Magnum vendesse algumas dessas fotografias, para prosseguir para os 41 destinos que lhe faltavam.
“Perguntaram quanto custava o trabalho e eu pedi o dobro do portefólio mais caro que já tinha sido vendido pela Magnum… Estenderam-me logo a mão: ‘Ok’”
No escritório da Magnum foi entregue uma caixa com 40 fotografias impressas em 24 x 30 cm, e Burgess ficou deslumbrado, como veio a contar, em 2019, ao British Journal of Photography. Ligou para Salgado, que havia sugerido tentar a publicação na Granta, e disse-lhe que uma das grandes revistas iria comprar a reportagem. Ele achava improvável porque a serra Pelada já tinha sido fotografada por outros, incluindo pelo correspondente da Magnum no Brasil, Miguel Rio Branco. Mas todos fizeram fotos a cores, passando apenas um dia ou dois a registar o espetáculo de 50 mil homens a procurar ouro na lama, no meio da Amazónia.
Uma das fotos inéditas publicada na nova edição de “Gold”, revelando o formigueiro de homens que procurava ouro na Amazónia brasileira
© Sebastião SALGADO
Salgado, por outro lado, fotografou a preto-e-branco e viveu quatro semanas com os “peões” num “barraco”, acompanhou todas as fases daquele trabalho colossal, ouviu-os falar dos seus sonhos e dos monstros que os atormentavam.
Essa imersão nos assuntos retratados foi sempre condição essencial para o trabalho do brasileiro, mesmo quando fotografava para as agências de notícias (e a cores), em que iniciou a sua carreira, no final da década de 1970. Em 1983, durante a grande vaga de fome na Etiópia, por exemplo, fixou-se num campo de subnutridos e criticava os jornalistas que mal contactavam com a realidade que pretendiam retratar – viu 34 equipas de reportagem a chegarem e a partirem durante os dez dias em que ali permaneceu.
“A paciência e a concentração necessárias para permanecer num só lugar, para tentar ver além das primeiras impressões, para se forçar a olhar para um assunto de maneiras diferentes, sob diferentes luzes, e depois voltar e olhar novamente, é algo essencial”, considera o ex-diretor da Magnum, que, uma hora depois de receber as fotografias de Salgado, estava a entrar no gabinete do editor de arte do Sunday Times.
Michael Rand, um homem pioneiro na introdução da cor nos suplementos de fim de semana, seria, talvez, o pior interlocutor possível para a venda de um portefólio a preto-e-branco, e Neil Burgess não havia revelado nada sobre o trabalho que iria apresentar, temendo que Rand nem sequer aceitasse vê-lo.
© Sebastião SALGADO
Durante uns instantes, depois de dispor sobre a mesa algumas das fotografias da corrida ao ouro no Brasil, instalou-se um silêncio incómodo na sala e Burgess temeu o pior. Mas, quando olhou para o rosto de Michael Rand, percebeu que era “um silêncio bom”, quase reverencial. Poucas foram as vezes que ele sentiu nos editores internacionais esse respeito que se mistura com o encantamento, como uma espécie de feitiço que conduz à rendição total. “Perguntaram quanto custava e eu pedi o dobro do preço do portefólio mais caro que já tinha sido vendido pela Magnum… Estenderam-me logo a mão: ‘Ok’.”
A reação foi semelhante na revista do New York Times, quando o editor de fotografia, Peter Howe, mostrou as fotos de Salgado à direção do jornal. “Em toda a minha carreira, nunca vi os diretores reagirem a um trabalho daquela forma”, escreveu Howe, no mês passado, a propósito da nova edição em livro desta reportagem, com a chancela da Taschen.
Na manhã seguinte à publicação, os telefones da Magnum não paravam. Editores de todo o mundo queriam comprar as fotografias e, a partir de então, Sebastião Salgado teve financiamento garantido para percorrer o mundo e ir publicando, reportagem a reportagem, o portefólio que, anos depois, seria agregado na obra Trabalho.
© Sebastião SALGADO
O retrato da escravidão a que aqueles homens se sujeitavam viria a garantir a sua liberdade como autor. Quem viu as fotografias do formigueiro de homens cobertos de lama naquela mina de ouro nunca mais esqueceu o nome de quem estava atrás da câmara.
Salgado também guardou para sempre o que sentiu na serra Pelada. “Ali tive uma visão dilacerada e definitiva do bicho-homem: 50 mil criaturas esculpidas em lama e sonho”, escreveu na introdução de Trabalho.
“Só se ouvia o rumor humano, murmúrios e gritos silenciados e o ruído de pás e enxadas impulsadas por mãos humanas, nenhum som de máquina.” Num local onde estavam proibidas as armas de fogo, o álcool e as mulheres, “havia uma indizível necessidade de tudo, de afeto, de calor humano. Havia um perigo constante e uma vida sem consolo. Escravos da ilusão, revolvendo a terra”.
Ali tive uma visão dilacerada e definitiva do bicho-homem: 50 mil criaturas esculpidas em lama e sonho
SEBASTIÃO SALGADO
Só permanecendo e conquistando a confiança dos homens que Salgado pretendia retratar foi possível fixar em película a esperança e a violência latentes naquela cratera com contornos irreais, de outro mundo ou de outros tempos.
Só assim foi possível ver além da lama que cobria aqueles milhares de corpos e conhecer histórias únicas, como a do dirigente sindical que liderava a ala dos mineiros homossexuais. “Era um valente, respeitado por todos, e sonhava encontrar ouro e ir para Paris”, recorda Salgado. O seu grande sonho era pôr seios de silicone. “Ninguém, como os franceses, para este tipo de operação. Os de Paris são os seios mais lindos do mundo”, dizia.
Provavelmente este mineiro nunca terá saído do Pará, como a grande maioria dos “peões” que ali perdeu anos de vida a correr atrás de uma miragem. A serra Pelada “secou” pouco tempo depois, e desses tempos restam apenas as lendas sobre pepitas do tamanho de couves – e as imagens que Salgado nos deu.
Dois livros e uma exposição
Sebastião Salgado voltou a olhar para os 400 rolos fotográficos que trouxe da serra Pelada, em 1987, para selecionar as 300 imagens (31 das quais inéditas) que integram o novo livro Gold, publicado, em novembro de 2019, pela Taschen, em três versões: uma para o público em geral (€50) e outras duas para colecionadores. A edição XXL custa €800 e cada livro está numerado e assinado pelo autor; a Art Edition, numa caixa em tons de terra, com uma fotografia impressa assinada pelo fotógrafo, custava 5000€ (já está esgotada). Editado em várias línguas, o livro tem uma edição trilingue (português, italiano e espanhol), com um texto de enquadramento do jornalista Alan Riding, antigo correspondente internacional do New York Times.
Em simultâneo, foi também criada uma exposição com 56 imagens inéditas, inaugurada em São Paulo, no Brasil, não havendo ainda informação sobre a sua passagem por Portugal, embora existam já datas para a sua apresentação em Londres, Talin e Estocolmo.
Sebastião Salgado formou-se em Economia, mas a paixão pela fotografia levou-o a arriscar uma carreira como fotojornalista, em 1973. Trabalhou para as agências Sigma e Gamma e, em 1979, passou a integrar a Magnum. Queria conhecer e dar a conhecer o mundo, compreender as motivações dos homens, documentar uma sociedade em mudança – e foi isso que fez nos últimos 40 anos. Depois de Trabalho, iniciado com as fotografias na serra Pelada, dedicou vários anos aos livros Terra, Êxodos, África e Génesis, entre outros projetos-causa. Da militância fotográfica passou à militância efetiva, em 1998, ao fundar o Instituto Terra (com a mulher, Lélia Wanick Salgado), promovendo a educação ambiental e a recuperação da mata atlântica e das florestas da Amazónia. Venceu o World Press Photo e o Prémio Príncipe das Astúrias, entre dezenas de distinções, e, em 2017, passou a ocupar a cadeira nº 1 das quatro existentes para fotógrafos na Academia de Belas-Artes de França. Tem 75 anos e, apesar de ter casa em Minas Gerais e em Paris, vive quase sempre em viagem.
Palavras-chave:



in: https://visao.sapo.pt/visaosaude/2020-02-04-deixar-de-fumar-novo-estudo-conclui-que-nunca-e-tarde-demais-gracas-a-batalhao-de-celulas-suplentes/


Deixar de fumar? Novo estudo conclui que nunca é tarde demais graças a batalhão de células suplentes

Já há uma imagem que mostra a nicotina a servir-se das células para reforçar dependência Getty Images
O estudo revela que deixar de fumar permite que as células danificadas sejam substitúidas por outras mais saudáveis. As condições em que o processo ocorre ainda não claras, mas promete dar uma nova esperança a quem achava ter atingido um ponto de não retorno
Segundo um novo estudo publicado na revista científica Nature, do Wellcome Sanger Institute e da University College London, os pulmões de ex-fumadores têm capacidade para se regenerar e assim reparar os danos de vários anos de vício. As condições em que este processo ocorre ainda não são claras, mas os investigadores sugerem que, após alguns anos de abstinência, o corpo cria um reservatório de células saudáveis prontas a atuar.
Já eram conhecidos os benefícios de deixar de fumar, mas o novo estudo promete dar nova esperança a quem pensava ter atingido o ponto de não retorno. “As pessoas que fumam muito há 30, 40 ou mais anos costumam-me dizer que é tarde demais para parar de fumar – o dano já está feito”, disse Peter Campbell, do Wellcome Sanger Institute, e coautor do estudo ao jornal britânico The Independent
Os investigadores examinaram células pulmonares de crianças, adultos que nunca fumaram, e de fumadores e ex-fumadores para procurar mutações no ADN. Os resultados demonstraram que, em comparação com não fumadores, 9 em cada 10 células pulmonares, de fumadores, sofreram milhares de mutações genéticas, e que um quarto dessas células tinha pelo menos uma mutação cancerígena. No entanto, nas amostras referentes ao grupo dos ex-fumadores, o grupo de cientistas descobriu que as células que foram em tempos geneticamente modificadas, tinham-se transformado, novamente, em células saudáveis, idênticas às do grupo dos que nunca tinham fumado.
“O que é mais empolgante no estudo é que ele mostra que nunca é tarde para parar – algumas pessoas do nosso estudo fumaram mais de 15 mil maços de cigarros ao longo da vida, mas, poucos anos depois de deixarem, muitas das células que revestem as vias aéreas não mostraram evidências de danos causados pelo tabaco”, disse Campbell ao mesmo jornal.
Em declarações à Agence France-Presse, Campbell garante que este processo não acontece “por magia”, e que, “as células suplentes são aquelas que conseguiram escapar aos danos do tabaco”. “Se pudermos descobrir onde elas residem normalmente e o que as faz expandir quando alguém para de fumar, talvez tenhamos oportunidade de torná-las ainda mais eficazes na reparação “, acrescentou o investigador.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

in:
https://www.nytimes.com/2018/10/26/style/digital-divide-screens-schools.html



The Digital Gap Between Rich and Poor Kids Is Not What We Expected
America’s public schools are still promoting devices with screens — even offering digital-only preschools. The rich are banning screens from class altogether.
CreditCreditPhoto Illustration by Tracy Ma/The New York Times; Getty Images (student)
·         Oct. 26, 2018
The parents in Overland Park, Kan., were fed up. They wanted their children off screens, but they needed strength in numbers. First, because no one wants their kid to be the lone weird one without a phone. And second, because taking the phone away from a middle schooler is actually very, very tough.
“We start the meetings by saying, ‘This is hard, we’re in a new frontier, but who is going to help us?’” said Krista Boan, who is leading a Kansas City-based program called START, which stands for Stand Together And Rethink Technology. “We can’t call our moms about this one.”
For the last six months, at night in school libraries across Overland Park, a suburb of Kansas City, Mo., about 150 parents have been meeting to talk about one thing: how to get their children off screens.
It wasn’t long ago that the worry was that rich students would have access to the internet earlier, gaining tech skills and creating a digital divide. Schools ask students to do homework online, while only about two-thirds of people in the U.S. have broadband internet service. But now, as Silicon Valley’s parents increasingly panic over the impact screens have on their children and move toward screen-free lifestyles, worries over a new digital divide are rising. It could happen that the children of poorer and middle-class parents will be raised by screens, while the children of Silicon Valley’s elite will be going back to wooden toys and the luxury of human interaction.
This is already playing out. Throwback play-based preschools are trending in affluent neighborhoods — but Utah has been rolling out a state-funded online-only preschool, now serving around 10,000 children. Organizers announced that the screen-based preschool effort would expand in 2019 with a federal grant to Wyoming, North Dakota, South Dakota, Idaho and Montana.
Lower-income teenagers spend an average of eight hours and seven minutes a day using screens for entertainment, while higher income peers spend five hours and 42 minutes, according to research by Common Sense Media, a nonprofit media watchdog. (This study counted each screen separately, so a child texting on a phone and watching TV for one hour counted as two hours of screens being used.) Two studies that look at race have found that white children are exposed to screens significantly less than African-American and Hispanic children.
And parents say there is a growing technological divide between public and private schools even in the same community. While the private Waldorf School of the Peninsula, popular with Silicon Valley executives, eschews most screens, the nearby public Hillview Middle School advertises its 1:1 iPad program.
The psychologist Richard Freed, who wrote a book about the dangers of screen-time for children and how to connect them back to real world experiences, divides his time between speaking before packed rooms in Silicon Valley and his clinical practice with low-income families in the far East Bay, where he is often the first one to tell parents that limiting screen-time might help with attention and behavior issues.
“I go from speaking to a group in Palo Alto who have read my book to Antioch, where I am the first person to mention any of these risks,” Dr. Freed said.
Editors’ Picks
https://static01.nyt.com/images/2019/03/27/science/27xp-nopain/27xp-nopain-square640.jpg?quality=75&auto=webp&disable=upscale&width=350

He worries especially about how the psychologists who work for these companies make the tools phenomenally addictive, as many are well-versed in the field of persuasive design (or how to influence human behavior through the screen). Examples: YouTube next video autoplays; the slot machine-like pleasure of refreshing Instagram for likes; Snapchat streaks.
“The digital divide was about access to technology, and now that everyone has access, the new digital divide is limiting access to technology,” said Chris Anderson, the former editor of Wired magazine.
Technology Is a Huge Social Experiment on Children
Some parents, pediatricians and teachers around the country are pushing back.
“These companies lied to the schools, and they’re lying to the parents,” said Natasha Burgert, a pediatrician in Kansas City. “We’re all getting duped.”
“Our kids, my kids included, we are subjecting them to one of the biggest social experiments we have seen in a long time,” she said. “What happens to my daughter if she can’t communicate over dinner — how is she going to find a spouse? How is she going to interview for a job?”
“I have families now that go teetotal,” Dr. Burgert said. “They’re like, ‘That’s it, we’re done.’”
One of those families are the Brownsbergers, who had long banned smartphones but recently also banned the internet-connected television.

“We took it down, we took the TV off the wall, and I canceled cable,” said Rachael Brownsberger, 34, the mother of 11- and 8-year old boys. “As crazy as that sounds!”
More on the new digital divide
https://static01.nyt.com/images/2018/10/28/fashion/26NoTech-1/26NoTech-1-threeByTwoSmallAt2X-v2.jpg

https://static01.nyt.com/images/2018/10/26/style/26SiliconNannies-1/26SiliconNannies-threeByTwoSmallAt2X.jpg

She and her husband, who runs a decorative concrete company, keep their children away from cellphones but found that even a little exposure to screen time changed the boys’ behavior. Her older son, who has A.D.H.D., would get angry when the screen had to be turned off, she said, which worried her.
His Christmas wish list was a Wii, a PlayStation, a Nintendo, a MacBook Pro and an iPhone.
“And I told him, ‘Kiddo, you’re not gonna get one of those things,’” Ms. Brownsberger said. “Yeah, I’m the mean mom.”
But one thing has made it easier: Others in what she described as a rural neighborhood outside Kansas City are doing the same thing.
“It takes a community to support this,” she said. “Like I was just talking to my neighbor last night — ‘Am I the worst mom ever?’”
Ms. Boan has three pilots running with about 40 parents in each, looking at best practices for getting kids off phones and screens. Overland Park’s Chamber of Commerce is supporting the work, and the city is working to incorporate elements of digital wellness into its new strategic vision.
 “The city planner and the chamber of commerce said to us, ‘We’ve seen this impact our city,’” Ms. Boan said. “We all want our kids to be independent, self-regulated device users, but we have to equip them.”
The Privilege of Choices
In Silicon Valley, some feel anxious about the growing class divide they see around screen-time.
Kirstin Stecher and her husband, who works as an engineer at Facebook, are raising their kids almost completely screen-free.
“Is this coming from a place of information — like, we know a lot about these screens,” she said. “Or is it coming from a place of privilege, that we don’t need them as badly?”
“There’s a message out there that your child is going to be crippled and in a different dimension if they’re not on the screen,” said Pierre Laurent, a former Microsoft and Intel executive now on the board of trustees at Silicon Valley’s Waldorf School. “That message doesn’t play as well in this part of the world.”
“People in this region of the world understand that the real thing is everything that’s happening around big data, AI, and that is not something that you’re going to be particularly good at because you have a cellphone in fourth grade,” Mr. Laurent said.
As those working to build products become more wary, the business of getting screens in front of kids is booming. Apple and Google compete ferociously to get products into schools and target students at an early age, when brand loyalty begins to form.
ADVERTISEMENT
Google published a case study of its work with the Hoover City, Ala., school district, saying technology equips students “with skills of the future.”
The company concluded that its own Chromebooks and Google tools changed lives: “The district leaders believe in preparing students for success by teaching them the skills, knowledge, and behaviors they need to become responsible citizens in the global community.”
Dr. Freed, though, argues these tools are too relied upon in schools for low-income children. And he sees the divide every day as he meets tech-addicted children of middle and low-income families.
“For a lot of kids in Antioch, those schools don’t have the resources for extracurricular activities, and their parents can’t afford nannies,” Dr. Freed said. He said the knowledge gap around tech’s danger is enormous.
Dr. Freed and 200 other psychologists petitioned the American Psychological Association in August to formally condemn the work psychologists are doing with persuasive design for tech platforms that are designed for children.
“Once it sinks its teeth into these kids, it’s really hard,” Dr. Freed said.
Nellie Bowles covers tech and internet culture. Follow her on Twitter: @nelliebowles




Berta Isla - Javier Marías

CAMÕES

 V CENTENÁRIO DE CAMÕES! CAMÕES, ENGENHO E ARTE! Participa...