terça-feira, 26 de janeiro de 2016


in: http://querosaber.sapo.pt/historia/ainda-se-lembra-de-todos-os-presidentes-da-republica-de-portugal

Ainda se lembra de todos os Presidentes da República de Portugal?


Ainda se lembra de todos os Presidentes da República de Portugal?

Foi a 05 de outubro de 1910 que foi implementada a República em Portugal. Num golpe de estado que terminou com a partida do último rei, D. Manuel II, para o Brasil, a Monarquia passou a fazer parte da História do país. Desde então, foram 19 os nomes que ocuparam o cargo de Presidente da República. Ainda se lembra de todos eles?
Comecemos pelo primeiro, em 1911. Foi Manuel de Arriaga o primeiro a assumir a posição por meio de eleições (se bem que Teófilo Braga tenha sido o chefe do primeiro governo provisório, até à realização de eleições).
Daí até ao dia de hoje passaram-se 106 anos. A República já passou por uma Ditadura Militar e Estado Novo, e entrou numa nova fase em 1974, com a Revolução dos Cravos.
  • 18 | 18
    Aníbal Cavaco Silva (2006-2016) - cumpriu dois mandatos, que terminaram hoje.

  •     Manuel de Arriaga (1911-1915), o primeiro Presidente da República portuguesa.
  • 2 | 18
    Teófilo Braga (1915) - exerceu o cargo apenas entre 29 de maio e 4 de agosto do mesmo ano.
  • 3 | 18
    Bernardino Machado (1915-1917; 1925-1926) - foi o último Presidente antes da Ditadura Militar.
  • 4 | 18
    Sidónio Pais (1917-1918) - foi no seu mandato que o Estado e a Igreja foram separados.
  • 5 | 18
    Canto e Castro (1918-1919) - foi eleito dias depois da morte de Sidónio Pais.
  • 6 | 18
    António José de Almeida (1919-1923) - o primeiro a cumprir o mandato previsto.
  • 7 | 18
    Teixeira Gomes (1923-1925) - devido à grande instabilidade, resigna ao mandado em 25.
  • 8 | 18
    José Mendes Cabeçadas (1926) - foi Bernardino Machado que lhe concedeu poderes de chefia.
  • 9 | 18
    Gomes da Costa (1926) - liderou o golpe que afastou Mendes Cabeçadas da presidência.
  • 10 | 18
    Óscar Carmona (1926-1951) - foi nomeado 11º Presidente, e primeiro do Estado Novo.
  • 11 | 18
    Craveiro Lopes (1951-1958) - candidato da União Nacional, foi eleito sem opositores.
  • 12 | 18
    Américo Tomás (1958-1974) - disputou as eleições com Humberto Delgado. Demitido a 25 de abril.
  • 13 | 18
    António de Spínola (1974) - é nomeado como representante do MFA, e renuncia em setembro.
  • 14 | 18
    Costa Gomes (1974-1976) - foi nomeado Presidente até à realização de eleições.
  • 15 | 18
    Ramalho Eanes (1976-1986) - o primeiro Presidente eleito por sufrágio direto e universal.
  • 16 | 18
    Mário Soares (1986-1996) - já tinha sido por duas vezes Primeiro-Ministro.
  • 17 | 18
    Jorge Sampaio (1996-2006) - foi um dos membros das revoltas estudantis dos anos 1960.
  • 18 | 18
    Aníbal Cavaco Silva (2006-2016) - cumpriu dois mandatos, que terminaram hoje.

  Teófilo Braga (1915) - exerceu o cargo apenas entre 29 de maio e 4 de agosto do mesmo ano.


Bernardino Machado (1915-1917; 1925-1926) - foi o último Presidente antes da Ditadura Militar.


Sidónio Pais (1917-1918) - foi no seu mandato que o Estado e a Igreja foram separados.


Canto e Castro (1918-1919) - foi eleito dias depois da morte de Sidónio Pais.


António José de Almeida (1919-1923) - o primeiro a cumprir o mandato previsto.


Teixeira Gomes (1923-1925) - devido à grande instabilidade, resigna ao mandado em 25.


José Mendes Cabeçadas (1926) - foi Bernardino Machado que lhe concedeu poderes de chefia.


Gomes da Costa (1926) - liderou o golpe que afastou Mendes Cabeçadas da presidência.


Óscar Carmona (1926-1951) - foi nomeado 11º Presidente, e primeiro do Estado Novo.


Craveiro Lopes (1951-1958) - candidato da União Nacional, foi eleito sem opositores.


Américo Tomás (1958-1974) - disputou as eleições com Humberto Delgado. Demitido a 25 de abril.




António de Spínola (1974) - é nomeado como representante do MFA, e renuncia em setembro.


Costa Gomes (1974-1976) - foi nomeado Presidente até à realização de eleições.


Ramalho Eanes (1976-1986) - o primeiro Presidente eleito por sufrágio direto e universal.


Mário Soares (1986-1996) - já tinha sido por duas vezes Primeiro-Ministro.


Jorge Sampaio (1996-2006) - foi um dos membros das revoltas estudantis dos anos 1960.


Aníbal Cavaco Silva (2006-2016) - cumpriu dois mandatos, que terminaram hoje.



Marcelo Rebelo de Sousa (2016)

Muitos dos presidentes não foram eleitos pelo povo, nem cumpriram o seu mandato até ao fim. Por exemplo, António José de Almeida, eleito em 1919, foi o único da Primeira República a cumprir os quatro anos de mandato. Sobretudo no final da Primeira República (até ao golpe militar de 1926, quando foi instaurada a Ditadura Militar), vários foram os presidentes que se demitiram o cargo devido à grande instabilidade e sucessivos golpes que aconteciam no país.
As dificuldades foram várias até à eleição de Ramalho Eanes, em 1976. Os próprios direitos dos cidadãos mudaram, já que Eanes foi o primeiro Presidente a ser eleito por sufrágio direto e universal (ou seja, todos os cidadãos maiores de 18 anos puderam votar).
Hoje, o Presidente da República é o representante da República Portuguesa, e Comandante Supremo das Forças Armadas. É Chefe de Estado, e responsável por nomear o Primeiro-Ministro e marcar o dia das eleições.
Enquanto Presidente da República, pode ainda dissolver a Assembleia da República ou demitir o Governo, quando a continuação do seu mandato puser em causa o "regular funcionamento das instituições democráticas."
Segundo a Constituição, é o Presidente que tem de "defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa."

in: http://www.dn.pt/sociedade/interior/se-a-crianca-disser-que-nao-quer--comer-mais-nao-se-deve-obrigar-4998923.html

Se a criança disser que não quer comer mais, não se deve obrigar

Deco indica que os pais se preocupam mais quando os filhos comem menos. Usar alimentos como prémios ou obrigar uma criança a limpar o prato são erros comuns
Costuma insistir para que o seu filho coma tudo o que tem no prato? Obriga-o a comer quando ele diz que já não tem fome? Se o faz, pode estar a cometer um erro, pois o apetite da criança deve ser respeitado. Forçar o seu filho a comer mais do que lhe apetece pode conduzir a maus hábitos alimentares e a um aumento de peso.
No seu mais recente estudo sobre os hábitos alimentares das crianças, a Deco concluiu que um terço dos pais "controla em demasia a alimentação das crianças, metade reconhece que as força a comer tudo o que está no prato e um quinto confessa que usa a comida como prémio." Atitudes como estas podem incutir comportamentos alimentares desajustados e dificultar o controlo de peso.
Não deve obrigar o seu filho a "limpar o prato". "A menos que esteja doente, a criança tem capacidade autorregulatória em termos alimentares", explica Osvaldo Santos, psicólogo que coordenou o estudo. Sinais exteriores de que necessita de comer mais podem criar confusões relativamente às suas necessidades. "Insistir é promover o excesso alimentar, que a longo prazo promove ganho ponderal e pode levar à obesidade."
Marline Furtado, nutricionista, reforça que "o apetite da criança deve ser respeitado", porque, caso contrário, "ela pode não se sentir valorizada." Quando come além das suas necessidades, sem que haja um dispêndio de energia, poderá existir um aumento de peso. "E na idade adulta tenderá a repetir esses hábitos da infância." Por isso, deve insistir-se apenas "dentro do mínimo razoável" e não deixar que depois vá comer iogurtes, bolachas ou outros alimentos. "Se não tem apetite para a refeição, não vai comer nada extra."
Educar o paladar das crianças
Quando o seu filho não quer comer determinado alimento, a postura já deverá ser diferente. Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, da Direção-Geral da Saúde, lembra que "o gosto por determinados produtos hortícolas não é inato", além de que as crianças tendem a "escolher sabores mais fáceis, como os salgados e os doces." Por isso, defende, é importante "insistir de forma pedagógica, mas sem uma pressão forte" para que adquira gosto por alimentos saudáveis.
Entre os 667 pais de crianças que responderam ao inquérito da Deco, 72% admitiram que proíbem a sobremesa às crianças se estas não terminarem o prato. E cerca de 20% recompensam os bons comportamentos com alguns alimentos. "A comida deve dar prazer, não deve ser usada como sistema de punição ou reforço", destaca Osvaldo Santos. Mais de um quinto dos entrevistados usam a comida para combater a tristeza e ansiedade dos filhos. "Isto pode levar a que seja comparada com algo emocional", destaca Marline Furtado, lembrando que são práticas que podem conduzir a doenças de comportamento alimentar.
É estimado que uma em cada três crianças portuguesas tenha excesso de peso, sendo a obesidade um problema que afeta 14%. É importante que os pais promovam uma alimentação variada e equilibrada, defende o investigador Osvaldo Santos, mas a restrição em excesso pode não ser benéfica, pois na ausência dos pais as crianças podem comer em demasia os alimentos restringidos. E é essencial dar o exemplo. "Comer demasiado chocolate ou muito rápido" não será um bom exemplo para o seu filho.
Para o coordenador da investigação, "um dos aspetos mais interessantes do estudo foi o facto de os pais se mostrarem mais preocupados quando os filhos comem a menos do que comem a mais". Segundo o psicólogo, isto está relacionado com uma "cultura de preocupação em garantir que as crianças comem o suficiente". Esta é, segundo Pedro Graça, uma perceção comum entre pais e educadores. "Um pouco de peso a mais não costuma ser visto como um risco", indica.

in: http://www.dn.pt/portugal/interior/o-nosso-modelo-escolar-e-do-sec-xviii-e-nao-esta-adaptado-a-realidade-4997445.html

"O nosso modelo escolar é do séc. XVIII e não está adaptado à realidade"

Se há mais de 20 anos se concluiu, a nível internacional, que o modelo escolar está esgotado, por que não se faz uma reforma profunda em vez de mudar pormenores, instabilizando alunos, professores e famílias? O especialista cita os exemplos do ensino na Finlândia e nos jesuítas catalães.
Entrevista com Joaquim Azevedo, investigador e professor da Universidade Católica, doutorado em Ciências da Educação
Tem havido discussão à volta da questão dos anos dos exames. Essa questão é central na educação?
A questão central da educação, de facto, não é essa, não passa por aí. É ser capaz de fazer que as novas gerações adquiram o conhecimento codificado que vem do passado e ajudá-las a desenvolver-se e a tomar conta do seu destino e da comunidade. Hoje, isso é feito cada vez com mais dificuldades, não cá em Portugal mas em todo o mundo. O modelo escolar vem do século XVIII - até vem de antes, mas desenvolveu-se mais a partir de então - e tem imensas dificuldades em adaptar-se à nova realidade. O mundo mudou muito.
Porque é global e todos temos acesso a informações de todos os lados?
Exatamente. E um acesso a conhecimento muito mais organizado, por causa de todo o investimento em inteligência artificial. É um mundo onde a tecnologia permite às crianças manipularem artefactos técnicos muito evoluídos, desenvolvendo uma capacidade mental diferente da das gerações anteriores. Mas quando se chega ao 1.º ano, a escola age mais ou menos como há 30 ou 40 anos. A cabeça com que as crianças vêm está moldada segundo outros modelos, já não é a mesma coisa. As dificuldades de ensino e aprendizagem são muito mais vastas do que as do passado. Há uma inadaptação da escola ao novo. Trabalho muito com escolas e no dia-a-dia. Até recentemente, os professores atribuíam o insucesso às famílias. Ainda ocorre muito essa justificação.
E é verdade?
Isso é uma premissa. O trabalho da escola tem de ser feito a partir daí, seja lá qual for o contexto. E isso é difícil, claro. Agora as queixas são sobre a desmotivação e a indisciplina, dois aspetos que estão associados. Por outro lado, revelam que a capacidade de captação da atenção que a escola antes produzia hoje é muito difícil. Os miúdos estão profundamente dispersos, com a atenção captada por realidades fora do contexto escolar que os motivam mais. A motivação, que é uma função escolar por excelência, tornou-se um pré-requisito. E isso é revelador da dificuldade da educação escolar em lidar com os tempos novos. Se esse pré-requisito existisse, a desigualdade social ainda seria maior. Se as crianças têm de chegar motivadas à escola para poderem aprender, se isso não é um trabalho escolar...
Que tipo de decisão é necessário que o Ministério da Educação tome para combater esse problema? Não estamos a falar de decisores e professores que não têm o mesmo tipo de "cabeça" que os alunos trazem?
Sim.
O que significa que é preciso intervir, primeiro, nos professores?
Sim.
É preciso fazer uma reforma a sério em vez de alterações pontuais? Rever todo o modelo?
Como, não sei, mas que o modelo precisa de revisão profunda, isso está claro. Nos anos 1990, quando representei Portugal num organismo da OCDE que trata da inovação e educação, ano após ano dávamo-nos conta de que o caminho não pode ser este. Este modelo está esgotado. Há um bloqueio, não avança. Como nós - de 31 ou 32 países - nos dedicávamos à inovação e educação, percebíamos que no mundo iam surgindo dinâmicas de mudança. Ao fim dos cinco anos em que lá estive, uma das perguntas que mais me fazia era: se toda a gente percebe, por que é que isto não muda?
E porquê?
Vivemos ambientes democráticos e é muito difícil que um partido se disponha a propor mudar o modelo escolar. Ninguém aceitaria, seria uma ótima forma de perder as eleições dizer, por exemplo, que queria mudar as disciplinas, os horários, os grupos de turma e os professores e a forma de trabalhar dos professores. Porque o que está em causa é que todo o modelo de organização pedagógica da escola tem de ser mudado. E isso não sei se vem de cima ou se vem de baixo.
É necessário um acordo de regime?
Sim. Pelo menos um entendimento entre algumas forças sociais e políticas. Aliás, o que revela esta geringonça da avaliação, por exemplo - para usar um termo na moda - é que tem muito que ver com isso. Vamos às escolas, trabalhamos com as famílias e o que mais pedem é: "Entendam-se, por favor!" O povo quer que os dirigentes políticos se entendam e os dirigentes políticos preferem fazer da educação um campo de batalha política. Isto é dramático!
É pôr pensos rápidos nos sítios onde a pessoa tem uma doença grave?
Exatamente. Há um sintoma. Mas nunca se ataca a doença.
As experiências inovadoras, na Finlândia e na Catalunha, mudam o quê?
Mudam a forma de organizar o ensino e a aprendizagem. O modelo escolar tradicional é alterado. É muito importante o passo que está a ser dado na Finlândia.
Por ser aplicado a nível nacional?
Por isso e porque é fruto de uma decisão política nacional. É a primeira vez. Há um país que dá o primeiro passo para aquilo por que há 20 anos ansiávamos.
No caso da Catalunha, não é o ensino do Estado, é particular. O Estado tem mais dificuldade, pela necessidade de um acordo entre os vários partidos?
Exatamente. Mas a Finlândia veio abrir caminho, já é possível recorrer a uma externalização para justificar. É a Finlândia, o centro do mundo neste campo, que faz a mudança, e isso faz toda a diferença.
E na Fundación Jesuitas Educación, uma rede de colégios da Catalunha?
Ainda não estão todos os colégios envolvidos, porque tiveram de fazer alterações físicas brutais. A dinâmica que está em curso na Catalunha demorou 15 anos a ser preparada. Desde a primeira reflexão, a primeira estruturação, até à questão dos recursos. Criaram um fundo entre as escolas todas para construir.
E é seguro?
É muito seguro porque já está a ser experimentado. Como o modelo é muito descentralizado e municipalizado, a cidade de Helsínquia já o tem aplicado em larga escala. Quando a decisão foi tomada já estava trabalhada e consensualizada, em termos políticos. As instâncias que refletem sobre estes temas já produziram muitos documentos. Quando, no próximo ano letivo, o modelo tiver aplicação nacional, já há muito trabalho feito e há segurança. É um passo importantíssimo. Tenho um texto sobre os casos da Catalunha e da Finlândia, que se chama Há uma brecha no dique. Essa brecha só pode alargar.
É irreversível?
Nunca mais se vai voltar para trás.
O que é diferente no novo modelo?
Na Finlândia, a mudança é ao nível da organização do trabalho escolar, que tem repercussões muito idênticas à Catalunha. O ensino passa a ser organizado por projetos... chamam-lhes fenómenos ou temas. Os professores, antes do início do ano letivo, organizam-se e estruturam uma boa parte do currículo - não é necessariamente a totalidade do currículo, porque é muito difícil fazer isso. Mas, por exemplo, 60% do currículo, é estruturado em torno de grandes temas agregadores, tendo em conta os interesses dos miúdos nas idades respetivas e a experiência que os professores têm com eles.
E que tipo de tema pode ser esse?
Por exemplo, há um problema da comunidade, uma necessidade que é preciso estudar, ou um tema que interessa aos alunos, ou um assunto em torno da natureza que mobilize conhecimentos nesses domínios. Os saberes de todos os anos letivos, organizados por pequenas unidades curriculares - de ciências, de língua materna, de matemática, de inglês - são mobilizados para os projetos. E há conteúdos que são dados em aulas tradicionais. Isto permite que os pro- fessores trabalhem interdisciplinarmente e em equipa.
Há diferenças entre os dois modelos, o finlandês e o jesuíta?
Os jesuítas da Catalunha vão mais longe porque agregam duas a três turmas. Isto obriga a deitar abaixo as paredes das escolas. As nossas escolas, incluindo as acabadas de construir pela Parque Escolar, onde se investiram centenas de milhões de euros, são para a educação escolar do século XVIII. Ninguém pensou em perguntar: "O futuro é este?" Estamos a construir hoje escolas que dentro de 5, 10, 15, 20 anos vão ter de ser alteradas, porque não é possível mais lecionar e organizar a escola em termos de grupos de 25 ou 30 alunos. Organizam-se grupos de 75, por exemplo, há dois ou três professores na sala que exploram os temas com diferentes grupos, com diferentes dinâmicas. E há uma mudança profunda na organização dos horários. Porque os alunos, numa parte importante da sua vida, vêm para a escola para continuar a pesquisa para o projeto. Até desse ponto de vista o vir à escola ganha outra...
...motivação?
Exato. E assim estamos a responder às questões de fundo: motivação, interesse, ser capaz de captar a atenção dos miúdos. Os professores queixam-se imenso, hoje, da dificuldade de ter os miúdos concentrados no que estão a fazer.
Há um grande medo da mudança. É preciso preparar um país para uma reforma destas?
Cada escola tem de ir criando condições para dar este salto. Aí temos muito a percorrer, porque pode haver também redes de escolas a fazer cooperativamente as mudanças. Em Portugal, temos uma grande experiência de trabalhar com projetos integradores, sobretudo nas escolas profissionais do ensino secundário em imensos sítios. São casos exemplares. Nós já fazemos o que a Finlândia quer fazer. Constroem mesmo um projeto integrador. Por exemplo, existe um problema para resolver na comunidade e os professores juntam-se. O ensino aí funciona por módulos. E então os professores verificam que módulos podem ser mobilizados. Desenvolvem o projeto em conjunto e aplicam--no. Na minha universidade, vamos fazer um um e-book só com exemplos destes. Trabalha-se muito bem a esse nível, em Portugal.
Portanto, é perfeitamente possível?
É possível em qualquer sítio.
Porque é que, no ensino básico, as pessoas têm medo?
Mas também têm no secundário. Isto faz-se minoritariamente. Têm medo porque este passo não é simples. Estamos a tentar fazer isso no interior norte do país, numa escola TEIP [programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária] com muitas dificuldades e está a ser muito difícil. Há muita resistência porque é uma nova metodologia que obriga os professores a trabalhar mais cooperativamente. Para uns é pacífico, para outros não. Implica, um modo de ensinar e uma forma de aprender que não são tradicionais. No contexto de algumas escolas profissionais, desde a raiz, isso conseguiu-se, mas é mais difícil passar à generalidade do sistema, porque nunca houve uma perspetiva integradora e flexível para trabalhar em projetos. A questão é passar de um sistema rígido a um sistema flexível. E não há nada na lei que diga que isso não pode ser feito.
Com a nossa legislação, seria possível começar?
Perfeitamente possível! É uma questão de organizar a escola. A principal dificuldade que encontramos, no caso que referi, é nos professores, na capacidade de formular a nova maneira de trabalhar. "Como vou integrar este saber com aquele?" Também há mil problemas com o facto de trabalharem em conjunto uns com os outros. Propomos esta dinâmica e muitos professores ficam motivados, porque sabem que isto vai motivar imenso os alunos. Mas depois: "Como avalio? Numa dinâmica de grupo, como traduzo isto em avaliação individual?" São estas as questões que emperram...
E como se faz a avaliação nesse novo modelo?
A avaliação pode ser mobilizada quer em termos individuais, quer em termos de equipa. Isso tem é de ser clarificado antes. Na formulação do projeto, têm de estar os objetivos a atingir, a maneira de lá chegar e as regras de avaliação: como é que cada um deles vai ser avaliado. E há imensas formas de fazer isso numa dinâmica formativa e não só. Para produzir a classificação, é mais simples. Mas é uma lógica de avaliação formativa: "aprendeste, não aprendeste", "se não aprendeste, porquê? Como dar a volta?" Essa dinâmica, como implica o processo de avaliação formativa, mexe mais com os professores. Diz-se muito agora: "Nós não queremos exames, queremos é avaliação formativa." Eu trabalho nas escolas, os professores classificam. Os professores sabem é classificar. O governo pode dizer que vai, sobretudo, haver avaliação formativa, mas isso não diz nada. O grande trabalho a fazer em Portugal é escola a escola, a tentar dar estes passos com consistência, com tempo. Isto demora muito a mudar. Na escola de que falei, estamos a caminhar há meses e há uma vontade enorme de fazer melhor. Os professores têm uma dedicação que, em muitos casos, é desmesuradíssima. Por vezes estão a fazer o que está provado que não resulta, mas trabalham loucamente, do ponto de vista profissional.
É preciso parar para olhar?
Pois. Refletir. Isto não pode ser assim.
As escolas superiores de educação não devem também espelhar isto tudo?
Deviam. Uma das coisas mais em causa é a formação inicial dos professores e a formação contínua, porque uma grande parte dos professores já está no sistema. Dentro de 10 ou 15 anos haverá uma grande oportunidade porque vão sair muitos milhares. Vem aí uma nova vaga que já devia chegar à esco-la com esta nova mentalidade. É também um problema político, porque está em causa o acesso à profissão. Eu tenho-me batido por isso e publicado pequenas coisas: é preciso dignificar mais a profissão docente, do ponto de vista da sociedade em geral. Tenho sugerido que a média de acesso aos cursos de formação inicial de professores tenha o mínimo de 16. E isto é uma decisão política.
Para que os melhores sejam professores?
É uma medida política! Não custa nada! É só publicar um decreto-lei, não tem interferência em coisa nenhuma a não ser nos cálculos para o acesso, que se podem colocar no computador. E pode dizer imenso. Se fizéssemos isso e revíssemos as regras de acesso à profissão docente e a formação inicial e contínua, podíamos estar a preparar os verdadeiros alicerces de uma educação diferente daqui a 20, 30 anos. Era isso que devíamos fazer. O que é que estamos a verificar? Nos últimos 20, 30 anos, acede à profissão docente um número razoável de jovens competentes mas também um número enorme de jovens que têm péssimas notas. E são professores. Entram com médias de 10, 11 ou 12... são pessoas com muitas dificuldades. A disputa que aqui se faz em torno da medicina, na Finlândia é em torno de ser professor, e o acesso à medicina fica a anos-luz do acesso à profissão docente.
Isso é estruturante?
É um trabalho que a Finlândia faz há 30 anos. Começou a investir na profissão docente, a mudar a formação inicial, a mudar as regras de funcionamento da profissão. E a pedir muito em troca. Por cada coisa que se dá, tem de se pedir muito em troca, do ponto de vista profissional e de exercício de responsabilidade: muita autonomia, mas muita responsabilidade. A realidade da Finlândia é essa. Nós temos agora essa oportunidade. Como temos um nível etário muito elevado, uma média de mais de 40 anos, dentro de 15 anos, no máximo, vamos ter a possibilidade de substituir um volume muito importante da geração dos professores.
A questão não se coloca, como dizem muitas pessoas, entre a permissividade e a disciplina?
Isso é uma conversa estafada. Essas tensões existem mas o problema não é esse. É uma mistificação, porque um sistema com exames pode ser altamente permissivo. Ficam bem os que ficam bem no exame. E os outros? Em Portugal, aumentou imenso, nos últimos anos, a retenção no 2.º ano. Porquê? Pelo efeito do exame. Mas aprende-se melhor? Temos de ir um bocadinho mais atrás, mais longe. Esse tipo de discussão cansa-me, não conduz a nada. Vivemos num mundo de faz de conta: faz de conta que escola funciona bem; faz de conta que os exames são bons para os alunos aprenderem; faz de conta que os professores ensinam bem; faz de conta que a legislação que o ministério põe cá fora é eficaz e que os professores e as escolas a seguem, faz de conta que existe avaliação formativa.
E depois trata-se o ranking das escolas como se fosse o grande objetivo?
Ou como se fosse tudo. E não é. Eu coordenei a equipa que pôs os exames em Portugal no 12.º, em 1993. Pela primeira vez, depois do 25 de Abril, criámos exames. Duvidámos e discutimos muito se se devia fazer. Porque sabemos o lado positivo e o lado negativo dos exames. Mas no caso do 12.º ano, creio que era mais ou menos inevitável. E tinha que ver também com o modelo da certificação e com a desigualdade de critérios de avaliação, porque havia escolas que davam notas inflacionadas internas. Foi preciso calibrar para ter a certificação final do percurso escolar antes do ensino superior. No 9.º ano, pode fazer sentido ter exames para avaliar o percurso de todo o ensino básico. Mas o investimento tem de ser no processo do ensino e aprendizagem. O problema está ali. Em educação, o processo é o produto, é o processo que conta. A avaliação externa e os exames são importantes, têm o seu papel. Mas isso não invalida que a questão central tenha de ser outra. Ter mais uma prova disto ou daquilo é irrelevante.
Qual é o caminho, então?
Nas escolas onde trabalho, a minha preocupação é se os professores estão a perceber os processos pedagógicos que eles próprios mobilizam. Refletem sobre isso? Sabem os que são eficazes e os que não são? Otimizam os que são eficazes? Estes é que são os núcleos. "Então sugerem-nos metodologias novas?" "Sim, com certeza. Há estas, estas, estas, vamos por este caminho, vamos por aquele". E as escolas mudam. E as pessoas, depois, agarram-se e prendem-se. Há aqui um problema de software, claramente. Hoje o problema é de software.

Berta Isla - Javier Marías

 in: https://www.escolavirtual.pt/Blogue/Artigos/e-se-a-inteligencia-artificial-for-ao-quadro.htm E se a Inteligência Artificial for ao quad...