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ESTUDO
Na pré-história, homens e mulheres eram iguais
15.05.2015 Por Life&Style
Estudo diz que nas tribos de caçadores e colectores existia igualdade de género e que esta era uma “vantagem de sobrevivência”.
As primeiras sociedades humanas regiam-se por princípios igualitários, revelam os cientistas da University College London, responsáveis por um estudo publicado na revista científica Science. O estudo, que partiu de dados genealógicos de duas populações contemporâneas de caçadores-colectores, uma do Congo e outra das Filipinas, mostrou também que actualmente, nestas tribos, homens e mulheres têm igual influência na decisão de onde o grupo vive e com quem vive. As descobertas contrariam ainda a ideia de que a igualdade de género é uma invenção recente, sugerindo que tem sido a norma para os seres humanos durante a maior parte do tempo.
“Há esta percepção de que os caçadores-colectores são mais machos ou se trata de um grupo dominado pelo sexo masculino. Mas podemos dizer que foi apenas com o surgimento da agricultura, quando as pessoas começaram a acumular recursos, que a desigualdade começou”, explica Mark Dyble, o antropologista responsável pelo estudo.
Segundo o cientista, a igualdade de género “faz parte de um conjunto importante de alterações de organização social, incluindo uniões monogâmicas, cérebros sociais e linguagem, que distinguem os seres humanos”.
Na investigação, os responsáveis quiseram aprofundar o aparente paradoxo de que enquanto as pessoas em sociedades de caçadores-colectores mostram fortes preferências para viver com familiares, na prática os grupos que vivem tendem a incluir poucos indivíduos próximos.
No Congo e nas Filipinas, as pessoas tendem a viver em grupos de 20, mudando de sítio de dez em dez dias e sobrevivendo através de caça, pesca, fruta, legumes e mel. Homens e mulheres partilham tarefas no cuidado das crianças e contribuem com a mesma quantidade de alimentos.
Os dados, sistematizados e confirmados através de um modelo matemático usado para simular a formação de redes de pessoas, mostram que quando as mulheres estão em pé de igualdade com os homens na decisão do sítio onde viver e com quem viver, as redes tendem a ser mais amplas e colaborativas. “Quando são apenas os homens a decidir com quem viver, o núcleo de qualquer comunidade torna-se uma rede densa de homens, com as suas mulheres em posições periféricas”, refere o investigador.
Os autores do estudo argumentam ainda que esta igualdade de género foi, aliás, uma vantagem evolutiva para as primeiras sociedades, uma vez que esta proporciona redes mais abrangentes e uma cooperação mais próxima entre indivíduos sem parentesco.
“Dá-nos uma rede de contactos muito maior com uma maior escolha de companheiros. Por isso a endogamia não é um problema. Além de que ao entrar em contacto com mais pessoas, é possível partilhar inovações, algo que os seres humanos fazem por excelência”, acrescenta.
Dyble explicou ainda que foram os princípios igualitários que regiam estas sociedades que distinguiram os nossos antepassados dos primatas. “Os chimpazés vivem em sociedades agressivas, dominadas por machos, e têm hierarquias claras”, sustenta. Andrea Migliano, da mesma universidade, acrescenta que este estudo “sugere um cenário em que os traços humanos únicos, como a cooperação com indivíduos sem parentesco, possa ter emergido no nosso passado evolutivo”.