sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Nobel da Literatura


 


(Fonte: Jornal de Notícias e Folha de São Paulo.)

A Academia sueca atribuiu, esta quinta-feira, o Nobel da Literatura a Abdulrazak Gurnah.

O Nobel da Literatura é um prémio concedido anualmente, desde 1901, pela Academia Sueca a autores que fizeram notáveis contribuições ao campo da literatura e tem um valor pecuniário superior a 900 mil euros.

Em Portugal, este autor tem apenas um livro editado: "Junto ao Mar", pela Difel, em 2003.

O escritor da Tanzânia, que vive no Reino Unido, foi distinguido pela exploração dos "efeitos do colonialismo e o destino dos refugiados no fluxo entre culturas e continentes."

Abdulrazak Gurnah nasceu em 1948 em Zanzibar, um arquipélago na costa este africana, mas exilou-se desde os 18 anos no Reino Unido, onde se reformou recentemente da Universidade de Kent, tendo aí sido professor de Literatura Inglesa e Pós-Colonial. É o primeiro autor negro africano a ser reconhecido pela Academia Sueca em mais de trinta anos, depois do nigeriano Wole Soyinka, laureado na década de oitenta. É o 118.º laureado na história do Nobel da Literatura.

Perante um galardão que é "historicamente muito ocidental", como escreve a agência France Presse, a última vez que a Academia Sueca distinguiu um autor africano com o Nobel da Literatura foi em 2003: o sul-africano J.M. Coetzee.

De toda a história do Nobel da Literatura, atribuído pela primeira vez em 1901, mais de 80% foram autores europeus ou norte-americanos, contabilizou a AFP.

Abdulrazak Gurnah, que escreve em inglês -embora a sua língua materna seja o suaíli-, publicou sobretudo romance e contos, nomeadamente "Paradise" (1994) e "Afterlives" (2020) e "tem sido amplamente reconhecido como um dos mais proeminentes escritores do pós-colonialismo".

"A sua partida [de Zanzibar] explica o papel central que o exílio tem em toda a sua obra, mas também a sua ausência de nostalgia por uma África primitiva e pré-colonial", afirmou a Academia Sueca.

No entender do comité, a obra literária de Abdulrazak Gurnah é um "retrato vívido e preciso de uma outra África, numa região marcada pela escravatura e por diferentes formas de repressão de vários regimes e poderes colonialistas: português, indiano, árabe, alemão e britânico".

"As personagens deslocadas de Gurnah, em Inglaterra ou no continente africano, encontram-se entre culturas e continentes, entre a vida deixada para trás e a que está por vir, enfrentam racismo e preconceito, mas também obrigam-se a silenciar a verdade ou a reinventar uma biografia para evitar um confronto com a realidade", justificou a academia.

 

Sinopses de algumas das suas obras:

Memory of Departure (“Memória de Partida”, em tradução livre) foi o primeiro livro publicado por Gurnah, quando o autor tinha 39 anos. A história, que se passa numa cidade costeira da África Ocidental, mostra como a pobreza e a depravação causaram estragos à família de Hassan Omar, protagonista e narrador da obra. Num determinado momento da narrativa, Hassan sai de casa e vai viver com um tio rico em Nairóbi, capital do Quénia. Lá, descobre não só os luxos da vida, mas também tem acesso à corrupção e à hipocrisia. 

Paradise (“Paraíso”) conta a história de Yusuf, um menino que vive na Tanzânia. Na obra, o jovem é penhorado pelo pai em troca de uma dívida e acaba por tornar-se criado de um comerciante. O pano de fundo do enredo mostra uma África corrompida pelo colonialismo e pela violência.  A obra rendeu a Gurnah o Prémio Booker, concedido anualmente ao melhor romance escrito em inglês e publicado no Reino Unido ou na Irlanda. Paradise foi o que catapultou o sucesso do tanzaniano – e parece ter sido decisivo para o seu Nobel. 

By the Sea (“Junto ao Mar”) conta a história de dois imigrantes africanos que vivem no Reino Unido, mas em condições muito diferentes: enquanto um deles está a pedir asilo a Inglaterra, o outro já está estabelecido no país e trabalha como professor de literatura. No entanto, ambos estão ligados por uma história do passado. O livro também chegou a ser nomeado para o Prémio Booker, mas não venceu.

Afterlives (algo como “Vidas Depois da Morte”) é o livro mais recente de Abdulrazak Gurnah. A obra incide no colonialismo e em como este pode afetar os indivíduos. Para isso, aborda diversos períodos da história da Tanzânia, desde a exploração pela Alemanha (entre os séculos XIX e XX) até à colonização britânica e a conquista da independência, em 1961.  Tudo isso usando como base a trajetória da personagem Ilyas, um homem que, em criança, foi vendido pelos seus pais às tropas alemãs.

Encontramos algumas das obras (em inglês) deste escritor nos linksseguintes:

https://sites.google.com/goall.42web.io/dankowe01/pdf-download-afterlives-by-abdulrazak-gurnah-book-on-kindle

https://fepogaguwawu.inovelinks.icu/by-the-sea-book-23566ng.php

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