terça-feira, 28 de janeiro de 2020

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https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0360131515300804

Elsevier

Computers & Education

Volume 94, March 2016, Pages 252-275
Computers & Education

The effects of integrating mobile devices with teaching and learning on students' learning performance: A meta-analysis and research synthesis

Under a Creative Commons license
open access

Highlights

This is a meta-analysis and research synthesis study for mobile-integrated education.
110 published journal articles that were written over a 20-year period were coded and analyzed.
The application of mobile devices to education has a moderate mean effect size.
The effect sizes of moderator variables were analyzed.
The benefits and drawbacks of mobile learning were synthesized.

Abstract

Mobile devices such as laptops, personal digital assistants, and mobile phones have become a learning tool with great potential in both classrooms and outdoor learning. Although there have been qualitative analyses of the use of mobile devices in education, systematic quantitative analyses of the effects of mobile-integrated education are lacking. This study performed a meta-analysis and research synthesis of the effects of integrated mobile devices in teaching and learning, in which 110 experimental and quasiexperimental journal articles published during the period 1993–2013 were coded and analyzed. Overall, there was a moderate mean effect size of 0.523 for the application of mobile devices to education. The effect sizes of moderator variables were analyzed and the advantages and disadvantages of mobile learning in different levels of moderator variables were synthesized based on content analyses of individual studies. The results of this study and their implications for both research and practice are discussed.

Keywords

Evaluation methodologies
Pedagogical issues
Teaching/learning strategies

1. Introduction

1.1. Integrating mobile devices with learning and instruction

Mobile computers have gradually been introduced into educational contexts over the past 2 decades. Mobile technology has led to most people to carry their own individual small computers that contain exceptional computing power, such as laptops, personal digital assistants (PDAs), tablet personal computers (PCs), cell phones, and e-book readers. This large amount of computing power and portability, combined with the wireless communication and context sensitivity tools, makes one-to-one computing a learning tool of great potential in both traditional classrooms and outdoor informal learning.
With regard to access to computers, large-scale one-to-one computing programs have been implemented in many countries globally (Bebell and O'Dwyer, 2010Fleischer, 2012Zucker and Light, 2009), such that elementary- and middle-school students and their teachers have their own mobile devices. In addition, in terms of promoting innovation in education via information technology, not only does mobile computing support traditional lecture-style teaching, but through convenient information gathering and sharing it can also promote innovative teaching methods such as cooperative learning (Lan et al., 2007Roschelle et al., 2010), exploratory learning outside the classroom (Liu, Lin, Tsai, & Paas, 2012), and game-based learning (Klopfer, Sheldon, Perry, & Chen, 2012). Therefore, mobile technologies have great potential for facilitating more innovative educational methods. Simultaneously, these patterns in educational methods will likely not only help subject content learning, but may also facilitate the development of communication, problem-solving, creativity, and other high-level skills among students (Warschauer, 2007).
However, despite the proposed advantages of using mobile computing devices for increasing computer accessibility, diverse teaching styles, and academic performance, currently researchers found mixed results regarding the effects of mobile-devices (e.g., Warschauer, Zheng, Niiya, Cotten, & Farkas, 2014), and very few studies have addressed how best to use mobile devices, and the effectiveness of doing so.
(...)
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https://blogue.rbe.mec.pt/a-educacao-em-exame-novos-dados-2319357

A Educação em Exame | novos dados

Visão comparada e evolutiva do sistema educativo

10.12.19
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Educação em Exame: uma visão única, comparada e evolutiva sobre o sistema educativo em Portugal
Não há mãe, pai, político, comentador ou especialista que não tenha uma ligação ao sistema educativo ou uma opinião acerca dele. Mas nem sempre estão disponíveis dados e análises que nos ajudem a ir além do senso-comum ou da mera opinião.
A partir de 2000, o PISA (Programme for International Student Assessment) permitiu tirar a fotografia aos sistemas educativos, revelar sucessos e expor fraquezas. Os resultados dos alunos portugueses melhoraram significativamente nestes testes internacionais, passando da cauda da OCDE para desempenhos na média dos países da organização. Porquê? O que aconteceu para os resultados melhorarem?
A Fundação Francisco Manuel dos Santos, o Conselho Nacional de Educação e o Expresso associaram-se para dar resposta a estas questões, partindo da investigação feita no estudo “aQeduto” (disponível para download aqui) sobre os dados PISA. Em Portugal, as análises de desempenho do sistema educativo com base nestes testes são ainda pouco frequentes. A informação é geralmente disponibilizada através de publicações técnicas, nem sempre acessíveis a todos os interessados no tema. A par da investigação de qualidade, interessa divulgá-la de modo compreensível e intuitivo, para uma reflexão e discussão alargadas sobre o tema.
A obra “A Educação em Exame.pt” vem colmatar esta lacuna: apresenta os resultados do PISA, acrescentando dados de outras fontes. Aqui é disponibilizada uma visão única, comparada e evolutiva sobre o sistema educativo em Portugal nos últimos 15-18 anos, tendo em conta três eixos fundamentais: os alunos e as famílias; os professores e as escolas; e os recursos que o país dedica a esta área.
O site oferece um panorama sobre o sistema português, associado a uma forte vertente de comparações internacionais. Tendo em conta o número de países e regiões onde o PISA é aplicado, surgiu a necessidade de reduzir o número de países em análise, de forma a chegar a resultados e representações gráficas de leitura mais fácil. Procedeu-se a um estudo de agrupamento de países, ou seja, selecionaram-se características de relevo no estudo dos sistemas educativos e agruparam-se os países com base nelas, utilizando-se um país representante de cada grupo. Deste processo resultaram onze países, para os quais foram feitas várias análises.
Através de um formato digital e interactivo, com um design responsivo adaptado às novas formas de comunicação, onde se combina o rigor dos factos com a simplicidade de os comunicar, todos os interessados podem ficar a conhecer a realidade educativa portuguesa. O site é actualizado, de acordo com a publicação de novos dados.
Ler mais >>

 

Referência: Educação em exame. (2019). Educacaoemexame.pt. Retrieved 10 December 2019, from https://educacaoemexame.pt/

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O futuro incerto da educação escolar | artigo

Tendências pedagógicas

21.12.19
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Tendencias Pedagógicas
ISSN-L: 1133-2654 | ISSN-e: 1989-8614
DOI prefix: 10.15366/tp

O FUTURO INCERTO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR

[...] A perda progressiva do papel monopolista historicamente atribuído à educação escolar é confrontada com o surgimento de novas agências e parceiros de disseminação de conhecimento que, através de redes, ecrãs e dados, não só incomodam, mas também desafiam as estruturas da velha escola, criando, em muitas ocasiões, práticas com maiores níveis de legitimidade social.
A escolaridade é um fenómeno relativamente recente na história da humanidade que, nos últimos cem anos, alcançou metas anteriormente impensáveis, como o acesso sem precedentes da maioria da população mundial às ferramentas básicas de leitura e de escrita. Mas o aumento do acesso veio acompanhado de novos desafios.
Os sistemas escolares apresentam enormes dificuldades para melhorar esse acesso em termos qualitativos e igualitários: o país e a origem socioeconómica, o género e a etnia continuam a ser importantes preditores do nível de formação das pessoas. Os sistemas de educação não conseguem reduzir as iniquidades de nascimento, sobretudo nos países em desenvolvimento, e também falham na formação em novas literacias ou nas competências que a sociedade atual exige. [...]
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Referência: Cobo, C. & Narodowski, M. (2020). El incierto futuro de la educación escolar. Tendencias Pedagógicas, 35, pp. 1-6. doi: 10.15366/tp2020.35.001
in: https://flipboard.com/article/as-pequenas-doen-as-da-eternidade/a-Ba9-aFKwSrCFK-1UVvtOeA%3Aa%3A2268207588-c220d06a49%2Fsapo.pt

https://visao.sapo.pt/atualidade/2020-01-03-as-pequenas-doencas-da-eternidade/

As pequenas doenças da eternidade

Ilustração: Susa Monteiro
Era, então, que o seu menino a salvava. Penteava a mãe, dizia ele, para que ela nunca morresse. Nesses cuidados, a vizinha ficava curada das suas pequenas doenças. Mais do que curada: Margarida ficava eterna
Na realidade não há adultos,
Há apenas jovens envelhecidos.
José Emílio Pacheco
Deus me dê a felicidade das pequenas doenças, era o que pedia a nossa vizinha Margarida Maralto. Na penumbra da sala, sentada num desgastado sofá, a senhora tricotava uma camisola de lã, sem saber para qual dos filhos a peça de roupa se destinava. Depois se vê, dizia. É consoante o tamanho em que ficar, acrescentava. Falava como se a obra mandasse nela.
Margarida costurava enquanto Júlio, o mais novo dos filhos, a penteava com uma escova de madrepérola. Júlio era o meu amigo preferido. Uma e outra vez, assisti àquela encenação e vi como, no final, o meu amigo recolhia os cabelos tomados no chão para os erguer de encontro à luz da janela. Cada cabelo brilhava como se fosse um fio de lã tricotando nuvens. Naquele momento, Júlio amarrava no céu os cabelos da mãe.
Margarida Maralto espreitava pela janela, mas não eram nuvens que ela queria ver. Esperava pela chegada do marido. Sabia que ele a estava a trair com outra, algures num quarto da cidade. Margarida tinha os olhos em maré vaza. Mas fazia de conta de que não havia espera, de que não havia marido, de que não havia cidade. E de que ela mesmo deixava de haver. Era, então, que o seu menino a salvava. Penteava a mãe, dizia ele, para que ela nunca morresse. Nesses cuidados, a vizinha ficava curada das suas pequenas doenças. Mais do que curada: Margarida ficava eterna.
Certa vez, Júlio dirigiu-se a mim para que convencesse a sua mãe a não incomodar Deus com as suas disparatadas encomendas. A mãe sorriu, condescendente: a vantagem da pequena enfermidade, explicou ela, é que acontece sem causa nem culpa. Adoecemos porque foi essa a nossa escolha. No falso sofrimento da pequena doença esquecemos as verdadeiras e incuráveis dores com que nascemos e iremos morrer. Outra vantagem: não se gasta em remédios. Para nos curarmos basta o conforto dos outros. E beijava o filho enquanto vaticinava: tivesse ela sucessivas pequenas doenças e seria feliz a vida inteira.
De regresso a casa, eu relatava aos meus pais o que se passara na residência anexa. Não estranhes, sossegava a minha mãe. A vizinha Margarida nascera assim, já era mãe quando viu pela primeira vez a luz. Ainda criança, carregou sozinha nos pequenos braços a infância dos seus irmãos. Por isso, ela agora se devotava tanto aos filhos. Aos sábados, entrava em casa com os braços cheios: vejam meninos, trouxe arrufadas. Anunciava-se como portadora da maior fortuna. Poupara toda a semana e dos seus dedos quiromantes tinham nascido umas tantas moedas. Sentadas na cozinha, a massa das arrufadas presa entre os dentes, as crianças riam-se de coisa nenhuma. E agora que os filhos todos já tinham saído de casa, restava-lhe Júlio com a sua infatigável escova de madrepérola. A minha presença, dizia-me ela à despedida, ajudava-a a varrer a saudade desses ausentes.
Até que um dia se descobriu que Júlio sofria do coração. Uma válvula, disseram. Eu não queria ouvir: doía-me saber que Júlio estava doente. E doía-me mais ainda saber que o coração tem peças. Primeiro, neguei. Havia um erro. O médico não conhecia realmente o meu amigo para lhe diagnosticar um defeito cardíaco. O coração de Júlio era infinito. Aos poucos, porém, o diagnóstico foi ficando verdade. Júlio ria-se sorvendo o ar com pequenos goles. E ficava cansado só de sonhar. Até que a alma se tornou um peso. Incapaz de correr, Júlio abandonou o seu lugar como avançado de centro da nossa equipa. Restou-lhe o papel de árbitro. No primeiro jogo, porém, ele quase desmaiou quando tentou soprar no apito. E nunca mais assinalou nenhuma falta.
Um dia foi a vida quem assinalou falta contra Júlio Maralto. A minha mãe acordou-me cedo e levou-me pela estrada de asfalto que nos conduziu ao cemitério. Os meus dedos cravados nos dedos dela, a mão e a mãe, tão próximos os seres, tão gémeas as palavras.
Contemplei Júlio deitado num caixão e os olhos dele estavam semiabertos, os olhos dele pediam que os salvássemos daquela imobilidade. Nenhum dos adultos sabia corresponder a esse desesperado apelo. Só eu levei para casa aqueles olhos dele, arfantes e semiabertos.
No canto do cemitério, a mãe de Júlio estava sentada numa cadeira e parecia uma rainha, as costas direitas, o olhar suspenso no infinito. As pessoas debruçavam-se sobre ela e dedicavam-lhe o impossível conforto de gestos e palavras. Margarida Maralto permanecia alheia. Quando me aproximei, porém, ela segurou-me no braço e fixou-me longamente para murmurar: agora é que viver já não tem cura. Uma lágrima ameaçava soltar-se no meu rosto quando Margarida deu um jeito nos cabelos e perguntou: estou bem penteada? A minha mãe abraçou-a sem conseguir articular palavra. Foi a vizinha que a consolou: nós sabemos, somos mulheres, quem é morto sempre aparece…
Agora, todas as tardes, vou visitar Margarida, mirrada dentro do vestido negro. Naquele corpo, tão magro e escasso, não cabem nem pequenas nem grandes doenças. Já contei todos os meus ossos, anuncia como um relato dos seus afazeres diários. E conclui: os ossos que traz no corpo são os que bastam, uns para sustentar lembranças, outros para devolver à terra. Contempla os muros como se esperasse que eles florissem e ergue o pescoço para dizer que está pronta. Empunho a escova e penteio os seus cabelos cada dia mais brancos. A vizinha não demora a adormecer. E eu me retiro, pé ante pé, para não interromper as eternidades da vizinha Margarida Maralto.
(Crónica publicada na VISÃO 1399 de 26 de dezembro)

Palavras-chave:

 
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Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto | 27 de janeiro

O horror de Auschwitz e do holocausto por quem o escreveu na primeira pessoa: Primo Levi

26.01.20
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Três crianças judias aguardam numa estação de comboio em Londres após viagem no chamado "Kindertransport"
[Texto de Tiago Palma | Observador]

O mais sangrento dos campos de concentração foi libertado há 71 anos. É hoje o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. E poucos como Primo Levi escreveram sobre ele. Viveu-o. Sobreviveu-lhe.
Isto é o inferno. Hoje, nos nossos dias, o inferno deve ser assim: uma sala grande e vazia, e nós, cansados, de pé, diante de uma torneira gotejante mas que não tem água potável, esperando algo certamente terrível, e nada acontece, e continua a não acontecer nada. Como é possível pensar? Não é mais possível; é como se estivéssemos mortos. Alguns sentam-se no chão. O tempo passa, gota a gota. Primo Levi, “Se Isto é um Homem” (1947)
11 de abril de 1987. Na manhã em que Primo Levi morreu – o relatório da polícia italiana aponta para uma tese de suicídio, relatando que Levi se atirou mortalmente do terceiro andar de casa, em Turim –, Elie Wiesel, autor de “A Noite” (também sobre a experiência de horrores vivida num campo de concentração nazi) e prémio Nobel da Paz em 1986, escreveu: “Primo Levi não morreu hoje. Morreu há quarenta anos, em Auschwitz.” Levi tinha 67 anos à data do suicido.
Não é (nem nunca foi) uma teoria da conspiração por parte de Wiesel dizê-lo. É antes a constatação de que o homem-Levi, químico, resistente anti-fascista na frente de guerra, não voltou de Auschwitz homem, mas apenas um corpo, com memória e uma mão com que escrever.
Aos 24 anos foi transportado para Auschwitz. Ele e outros seiscentos e cinquenta judeus italianos. Estávamos em fevereiro de 1944. Deles, só vinte sobreviveram — Levi incluído. Quando se viu, enfim, libertado pelo exército soviético, a 27 de janeiro de 1945, ao fim de 11 meses de privação e indignidade humana, Levi havia envelhecido, não 11 meses, mas décadas. Não só fisicamente. Mas serviu-lhe a experiência, de morte, não a sua mas a que testemunhou dia-a-dia à sua frente, todos os dias, a experiência de sobreviver quase miraculosamente — a resiliência fez o resto –, essa experiência-limite permitiu-lhe escrever, por exemplo, “Se Isto é Um Homem” (a trilogía de Auschwitz completa-se com “A Trégua” e “Os que Sucumbem e os que se Salvam”).
Nem só sobre o holocausto escreveu Primo Levi, mas quando o fez, mais do que procurar culpados ou explicações, narrou. Simplesmente isso: narrou o horror, sem artifícios, com crueza, a vida no mais sangrento dos campos de concentração do Terceiro Reich. O campo foi libertado há 71 anos. E também por isso se assinalada, nesta data e desde 2005, o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.
Mais do que ler a não-ficção de autores como Levi, Wiesel ou Imre Kertèsz, mais do que ver no cinema ou em casa “A Lista de Schindler” e, mais recente, “Filho de Saul”, de Laszlo Nemes (o filme recebeu o Grande Prémio de Cannes e o Globo de Ouro para Melhor Filme Estrangeiro), mais importante que isso é ler os relatos, sem polimentos literários ou de realização, como os que Levi (a par com Leonardo de Benedetti) escreveu em “Assim foi Auschwitz”. Em 1945, no rescaldo do fim da Guerra e da libertação dos campos de concentração pelos aliados, o exército soviético pediu a Primo Levi e a Benedetti, seu companheiro de campo, que redigissem, em detalhe, como eram as condições de vida lá. O resultado foi um dos primeiros relatórios alguma vez realizados sobre os campos de extermínio. Os textos de Levi, inéditos, finalmente trazidos à estampa no último ano, têm um valor histórico e humano tão importante hoje, 71 anos volvidos sobre o fim da Segunda Guerra, como quando este os escreveu.
Lá, Levi escreveu — o mesmo Levi que, em “Se Isto é Um Homem”, sentia mais culpa por ter sobrevivo (e os outros não) do que culpava os nazis pelo extermino — que “a responsabilidade repousa colectivamente sobre todos os soldados, sargentos e oficiais da SS destacados em Auschwitz”. O livro “Assim foi Auschwitz” serviu também para, ao longo das décadas — e ainda nos nossos dias –, trazer ex-carrascos aos tribunais. Julgá-los. Para que a história os recorde como isso: carrascos. Por outro lado, é também importante perceber que Primo Levi considera que, mais do que o mero extermino de judeus, os campos de concentração serviam para impulsionar a própria economia da Alemanha.
Escrevia Levi: “Os campos não eram um fenómeno marginal: a indústria alemã baseava-se neles; eram uma instituição fundamental do fascismo na Europa e os nazis não o escondiam: mais do que mantê-los, alargavam-nos e aperfeiçoavam-nos.”
Num sábado, dia 11 de Abril, em 1987, por volta das 10 horas da manhã, a porteira de um prédio na avenida Corso Rei Umberto, em Turim, tocou à porta do 3.º andar para, como em todos os dias, entregar o correio. Primo Levi abriu-lhe a porta, sorriu-lhe e recebeu-o. Voltou a entrar em casa. Poucos minutos depois o seu corpo estatelava-se no fundo da escada, ao lado do elevador. Morreu instantaneamente. Primo Levi sobreviveu ao holocausto no pior dos campos de concentração. Não sobreviveu aos dias fora dele — mas com ele por dentro, vivo, a remoer-lhe.

Referência: Palma, T. (2020). O horror de Auschwitz e do holocausto por quem o escreveu na primeira pessoa: Primo Levi – ObservadorObservador.pt. Retrieved 26 January 2020, from https://observador.pt/2016/01/27/horror-auschwitz-do-holocausto-escreveu-na-primeira-pessoa-primo-levi/

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